segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Entrevista a Bruno Alpoim (Treinador EAS Sporting Carnide)



Olá amigos,

Mais uma pessoa que anda neste mundo do Futebol que vos quero dar a conhecer. Conheci à menos de um ano, mas nasceu uma amizade num espaço de semanas, em pequenas conversas a empatia nasceu. Convidou-me para trabalhar com ele na EAS Sporting de Carnide, depois de conversas sobre futebol e de gostar da sua forma de estar no futebol, decidi ir ajudar um amigo, ajudar uma pessoa que certamente tinha coisas para ensinar-me. A minha vontade de crescer e de aprender sempre mais sobre futebol, faz com que escolha cada vez mais as pessoas com quem estou. Bruno é um treinador competente, com capacidade de estar a trabalhar a um nível superior, alguém que sabe de futebol, muito assertivo, mas com capacidade de ouvir e analisar. O facto de saber não impede que tenha sempre o desejo de querer aprender mais. Esta experiência que tive com ele, foi para mim mais um momento de aprendizagem e evolução, gosto de beber em varias fontes, sei que assim vou estar melhor preparado para os novos desafios.




S- Nome, idade, profissão?

B- Bruno Alpoim; 30 anos; Treinador de Futebol


S- O que representa futebol para ti?

B- A melhor definição que posso dar do Futebol é paixão, é a minha vida por inteiro, é tempo que quando estamos inseridos no trabalho, no treino e em tudo o que o envolve não se sente o tempo passar e é praticamente no que eu consigo pensar durante todos os dias.

Clubes que já treinaste?

Treinei já nestes 14 anos de Treinador de Futebol todos os escalões menos Seniores, desde Treinador Principal a Treinador Adjunto, 7 anos no Casa Pia Atlético Clube; Meio ano no FC Odivelas; Treinei outro meio ano e coordenei o futebol jovem do Núcleo Sportinguista de Alcabideche; 2 anos e meio na Escola Academia Sporting de Sintra e 1 uma época na EAS da Alta de Lisboa que mudou de instalações para Carnide (EAS de carnide) onde vou para o 2º ano.


S- Qual foi o projecto mais difícil? 
B- Penso que todos os projectos não são fáceis, e qualquer início de um qualquer projecto cria-nos as mais variáveis dificuldades, que podem ir desde da dificuldade da falta de organização, à estrutura e sua interligação. A problemática do nosso dirigismo em Portugal em que todos pensam que sabem de futebol e no entanto como sabemos passa muito mais do que dar uns pontapés na bola, penso então que a base Cultural Desportiva do nosso futebol é neste momento o nosso grande “calcanhar de Aquiles”. Não te consigo referir um projecto que seja o mais difícil, mas sei dizer-te que iniciar a construção de uma equipa no plano metodológico em que depois estamos dependentes essencialmente no futebol de Formação, ainda para mais nas Escolas Academia Sporting do que nos aparece, e concluímos ao fim de pouco tempo que não existe melhor lugar para trabalhar a tua versatilidade e capacidade de improviso constante. No entanto começa a existir uma certa evolução das EAS relativamente á relação Formação vs Vencer vs Negócio tem que estar implicitamente ligados e com isso começa a existir equipas muito competitivas.

S- Qual foi o de maior sucesso?
B- Para mim o Sucesso é Vencer. Sim quero formar jovens em enormes seres-humanos, em pessoas que saibam o quanto complicado é o sentimento da derrota e o quanto é importante saber perder, mas no entanto quero que saibam que o gosto da vitória é inigualável e que podemos aprender tanto na derrota como na vitória e que somos maiores quando sabemos ganhar em campo como fora dele.
Sendo assim o nosso maior sucesso e por todas as dificuldades inerentes á construção de uma equipa competitiva numa Escola Academia Sporting, neste caso em Carnide, com o fim da Escola na Alta de Lisboa foi o facto de conseguirmos reunir os meus 4 Jogadores da Eas Alta de Lisboa na EAS em Carnide e juntá-los a outro grupo que tinha subido da equipa de 1º ano, e mesmo com alguns a realizarem apenas a sua primeira época e outros a 2ª época enquanto federados competiram e evoluíram de forma estrondosa e realizaram um época inédita na formação nas EAS do Escalão de Sub-15  promovendo a equipa à 1º Divisão Distrital de Lisboa e sagrando-se Campeões da II Divisão Distrital pelo CF Unidos.


S- Sei que tens trabalhado nas camadas jovens, nomeadamente nas EAS Sporting, Sporting é a melhor escola de formação? O que achas deste tipo de escolas?
B- Penso que sim, todas as escolas de futebol como todas as empresas que fornecem um serviço são as melhores e tornam-se as melhores durante período largo de tempo quando ao seu serviço se encontram os melhores recursos humanos e logísticos. Cabe às EAS,
 quem as dirige, quem as coordena, aos treinadores e até ás pessoas que fazem a ligação das EAS até ao Sporting Clube de Portugal  que criem e promovam essas condições para que as EAS  sejam o prolongamento da pedagogia e qualidade que tornou Sporting Clube de Portugal um clube sem igual no Futebol de Formação. Para mim penso que é fundamental que este ponto seja revisto para que a excelência faça parte sempre dos pergaminhos deste grande clube.



S- O que pode melhorar neste tipo de escolas?
B- Acredito que muito do que se pode melhorar, modificar depende de EAS para EAS. Temos sempre na vida muito para melhorar. A vida como no desporto tudo está sempre em mutação e em evolução. Assim quem trabalha neste âmbito como em qualquer outro tem que ter isso em mente senão a estagnação é inevitável. Resposta á tua pergunta e de modo nenhum fugir a ela, podemos sempre melhorar, acredito que deva existir uma metodologia transversal a todas as EAS na Formação, deste que como todos as metodologias, e sabemos que existem formas de trabalhar diferentes, seja dado espaço aos treinadores. Sem que se prejudique a evolução do processo de treino do treinador  
da  sua própria equipa.
Acredito que não se deva criar determinados fundamentalismos em relação a uma determinada metodologia procurando sempre dar espaço a essa melhoria.
Sinto e sei porque é como eu gosto de trabalhar que com Método, exigência, responsabilidade, coragem nas tomadas de decisão seja elas quais forem.


S- O que entendes por formação?
B- Formação do ponto de vista metodológico é divido desde dos Petizes/ Traquinas até Juniores A, sendo que a partir dos sub-16 ( Juvenis) começa existir uma pré-especializaçao do ensino para que nos Juniores haja uma passagem mais natural aos Seniores exista uma Especialização do Futebol.
Formação no entanto num sentido mais lato tem que se ter método e uma filosofia que a defina para que todos desde crianças aos adolescentes possam aprender a jogar futebol , crescer com o melhor que desporto nos pode oferecer que é amizades que se criam, respeito por essas amizades e pelos adversários e pelas regras, a competitividade saudável que nos pode criar competências fortes e aprendizagens como experiências enriquecedores que ajudam e ajudarão no futuro enquanto ser-humano.


S- Sei que este ano tiveste sucesso com os iniciados da EAS Carnide, qual foi o segredo para um feito desse tipo?
B- Nada no futebol se consegue sozinho, tive um grupo em que todos se tornaram amigos e entenderam que só em equipa podíamos vencer jogos, no Futebol de Formação especialmente o sucesso nunca é instantâneo, dai levar o seu tempo, tive a confiança após a mudança de EAS, de jogadores que decidiram acompanhar-me, e a partir desse momento já não começas literalmente do zero e o Modelo de Jogo como também os processos de treinos que começam a ser desenvolvidos leva a que todos os outros jogadores como por osmose depois da filtragem de informação começam a interpretar todos os momentos do jogo. No entanto a qualidade que todos de diversas maneiras sob as varias dimensões do jogo trouxeram á equipa, criaram através de muito trabalho uma equipa coesa e unida, e a forte envolvência mental que foi criada nos treinos , através da aplicação da concentração/atenção focalizada e selectiva como decisiva  era importante o que nos levou a um sucesso em torno do objectivo que estipulámos desde inicio que era ganhar todos os jogos que disputávamos, com apenas duas derrotas em mais de 30 jogos.


S- Como te defines como treinador? Que estilo de liderança usas?
B- Parto do inicio que devo ser sempre honesto e coerente no que faço e digo, dando espaço e liberdade a que qualquer jogador possa falar expondo duvidas e problemas relacionados com a equipa como também problemas mais individualizados.
Tenho apesar de tudo uma liderança autoritária e que muitas das vezes levo a minha frontalidade a um extremo quando necessário que precede sempre de uma analise individual que faço a cada jogador e ao momento da equipa, muitas das vezes posso errar, mas tenho a facilidade de “ esticar a corda” na relação que tenho com os meus atletas que como sabem com o que podem contar eu também tenho que saber com o que posso contar, e é neste jogo psicológico que também jogo e que identifico o meu tipo de liderança, no entanto e nunca esquecendo  que devo com este tipo de liderança adequar a cada faixa-étaria. Acredito e sei que um Líder não se cria, ou se é ou não, e que a melhor liderança é através do conhecimento/ saber e da assertividade que expões o mesmo.

S- Porque é tão difícil haver mais situações dessas nas varias EAS?
B- Como já referi tudo depende muito da relação Negócio vs Formação vs Vitória de cada estrutura e com as suas decisões , e hoje com as proliferação de Escolas Sporting; Gerações Benfica; Escolas Os Belenenses leva cada vez mais a uma maior competitividade no domínio do negócio. Mas qualquer que seja a escola de Futebol, ou está numa Divisão superior, ou terá sempre mais dificuldades em ter equipas com qualidade e homogéneas principalmente dos escalões de Sub-14 para cima, em que estamos dependentes  dos jogadores que nos podem aparecer para treinar, e que alguns dos bons jogadores que existam possam pagar uma mensalidade que como sabemos  é de alguma forma e geralmente cara, afastando os bons jogadores para outras equipas onde a mensalidade não existe e se existe é uma quantia menor. 


S- Existe um assunto que sempre me deixa preocupado, que é o pais no futebol e a sua intervenção, como classificas a sua postura no geral?
B- O Futebol sendo o desporto rei, e transversal a toda uma sociedade e a todos os seus extratos-sociais que a integram, temos que olhar sob vários pontos de vista. Primeiro dos quais sobre o ponto de vista social, o do adepto e do sentimento real que tem pelo seu clube e sem compromissos, e com o único objetivo que é ver a sua equipa vencer. Depois sobre o domínio Economico/ Financeiro que subjuga tudo o que rodeia o futebol desde do mercado das transmissões televisivas e aos interesses pessoais das estruturas ligadas ao futebol e dos seus vários agentes desportivos que de forma indireta influencia a sociedade como também o seu comportamento perante este Desporto vs Negócio. Penso que o futebol tem algo que ( já acontece mais vezes) é o poder de mudar preconceitos culturais e até a capacidade de transformar  alguns problemas geopolíticos em algo positivo, no entanto temos que ser mais interventivos. Já  Nelson Mandela referia que  “ O Desporto pode criar esperança onde outrora só havia desespero. É mais poderoso do que o Governo na destruição das barreiras raciais. O desporto ri na cara de todos os tipos de discriminação.”

S-  E no sucesso desta tua equipa iniciados, que grau de importância tiveram? 
B- Tivemos um sucesso inédito dentro das estruturas Escolas Academia Sporting, sendo o primeiro ano desta escola, num escalão de Sub-15 que não tem muita historia, e pelos números conseguidos torna tudo ainda mais extraordinário. A importância que teve foi dada pela generalidade, acima de tudo pelo jogadores, equipa técnica,  pelos pais que foram de um apoio inexcedível e tiveram um papel de enorme relevância em todos os momentos da época, e pela direção  da escola e do Clube CF Unidos quem representamos e o qual não era campeão em nenhum escalão à 40 anos.
O importante em tudo isto a relevância que eu dou, e essa sim, é  que não temos a oportunidade todos os dias de sermos campeões e conseguimos, e que a evolução de todos está a ser assegurada e prova exactamente disso é a procura de vários jogadores da nossa equipa de emblemas que jogam em divisões superiores.


S- Este ano treinaste dois escalões diferentes, iniciados e juniores, fala-me sobre essa experiência!?
B- Experiência aliciante e de enorme  exigência a todos os níveis e que me obrigou a muito trabalho mas que me valorizou e me fez evoluir tanto enquanto pessoa e treinador. Por incrível que te possa parecer o nível de treino em que se encontrava a equipa de iniciados era mais evoluída relativamente ao conhecimento do jogo tal como em relação a todas a dimensões do jogo. Mas com as obvias formas metodológicas de trabalho e  processos de treinos diferentes  devido ao momento de aprendizagem de cada um e ás exigências que cada escalão nos obriga e á cultura comportamental logo mental que cada equipa  tinha colocou-me diversos desafios mas tornou-se muito gratificante, porque foi no geral um ano de grande sucesso, apesar nos juniores conquistarmos a manutenção com o 9º lugar. A grande vitória foi a mudança de mentalidade competitiva e de regras relativamente ao treino que por fim nos levou á construção de uma equipa.


S- Fala-me um pouco desse primeiro ano da EAS Carnide?
B- Foi por todas as razões que eu te fui referindo nas minhas respostas um ano de enorme sucesso pessoal, que maior relevância toma por ser em condições sejam elas boas e menos boas que uma Escola Academia Sporting nos oferece. Mas quem trabalha ou trabalhou sob este tipo de regime entende perfeitamente o quero dizer.


S- Muitos treinadores são rotulados de bons treinadores de formação, é o teu caso? Pensas no futebol sénior? Comenta!
B- Penso que não devemos estereotipar de todo esse assunto, acho que não se deve rotular, para mim é simples ou se é bom treinador ou apenas não se é, revelando competências, responsabilidade e seriedade no desempenho do nosso trabalho podemos perfeitamente trabalhar em qualquer escalão. Sabemos no entanto que existe um pouco de tudo uns  actuam melhor numa determinada faixa-etária outros noutra, mas que cada vertente tem o seu desafio e  varias formas de proceder e aí compete ao treinador interpretar as situações e agir em conformidade com cada situação e com o escalão em que se encontra.

Sim  é sem duvida  o meu principal objectivo, desde sempre que trabalho para chegar a esse escalão, ainda não chegou a oportunidade que eu acho que seja a correcta e que me confira um mínimo de condições para evoluir, quando tiver que dar esse passo tem que ser bem analisado e assim o farei.
O caminho que tenho percorrido penso que é o mais certo e tenho absorvido tudo o que cada escalão me tem para me dar para quando chegar aos Séniores  possa estar preparado, sabemos que não existe nenhuma regra que nos diga que tenhamos que ter uma progressão ascendente ou que o contrario não possa também ser  verdade. No entanto sinto-me já preparado para estar no futebol sénior, espero a oportunidade certa.



S- Daqui a 5 anos onde pensas que podes estar?
B- Não escondo que sou ambicioso o suficiente para querer estar  dentro de um estrutura técnica que me permite viver e exercer a minha paixão, e espero que dentro destes 5 anos possa estar a trabalhar ao mais alto nível do rendimento desportivo.


S- Se pudesses escolher um clube para treinar qual escolherias? Comenta a tua escolha!
B- Tenho alguns clubes que quero treinar se a vida me proporcionar isso mesmo, mas quando um dia  estiver perto de acontecer, fazes outra vez esta pergunta e depois eu revelo-te.


S- Para terminar, nome de 2 ou 3 jogadores que achas que tem qualidade para estar a um nivel superior.
B- Tenho 3 Jogadores que só este ano foram para níveis diferentes do que estavam, um miúdo dos Sub-15, agora Juvenil o Carlinhos Costa que Real Massamá o observou e o levou para a divisão de honra, levar em consideração que este atleta tem apenas 2 anos de Futebol iniciados comigo e que ao 3º ano de futebol federado tem um potencial enorme para se tornar um avançado como poucos. Tenho depois 2 Juniores esta época no seu 2ºano que trabalharam comigo um deles Samuel Fernandez ( Avançado),  este ultimo ano não era opção no Malveira e que em oito meses evolui-o de tal maneira que o Oeiras o contratou hoje irá jogar no Nacional de Juniores, depois tenho o Ruben Nola que irá jogar no Torriense este que pode jogar em qualquer posição na frente de ataque, não tinha qualquer noção do que era fazer parte de uma equipa de futebol, hoje os dois irão dar muito que falar porque tem um potencial que deve ser levado em consideração.


S- Obrigado! Grande abraço

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